4 Feb 2012

Sampa

Foto: Alexandre Rielo
Quando eu morrer quero ficar, 
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade, Saudade. 

Meus pés enterrem na rua Aurora, 
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano: 
Um coração vivo e um defunto 
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido 
Direito, o esquerdo nos Telégrafos, 
Quero saber da vida alheia, 
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade. 
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

Mário de Andrade



2 comments:

  1. amiga, vc sofre da mesma doença que eu:´paulistanite ;)o blog tá 10 ... e, como vc costuma dizer: me aguarde ! :D beijão

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  2. Obrigada Mi. Um pouco de nostalgia é sempre bom. Afinal a sementinha dentro de mim continua paulistana. To te aguardando, viu? bjs

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