29 Feb 2012

Nostalgia

The past is a foreign country: they do things differently there.
L.P. Hartley, The Go-Between

Foto: Magnolia Brussi

21 Feb 2012

Modulightor

Parece até engraçado o que vou escrever: o arquiteto americano Paulo Rudolph acreditava em festas. Suas casas são uma evidência de sua sociabilidade.  

Paul Rudolph (1918-1997) não se preocupava só com o exterior de suas obras. Para ele era importante a interação das pessoas dentro da casa. Rudolph encarava como função arquitetônica o incentivo à conversação.
As casas que construiu são minimalistas mas não frias. Elas contém tipos de ambientes que devem ser fotografados com gente dentro. 
Não é a toa que elas foram palco de grandes festas dos intelectuais e artistas nos anos 80 e 90. 
Dizem até que Liza Minelli caiu na escada de uma delas.
Vou falar aqui da Modulightor, em Nova Iorque, umas das últimas casas que ele construiu, no começo dos anos 90.
Por fora, a casa mostra suas vigas em I, afinal foi construída com influências do brutalismo, tendência que privilegiava a verdade estrutural das edificações, nunca escondendo vigas ou pilares. 
A casa é uma grande orquestra de luz, com materiais refletindo luzes e amplas janelas. As vigas, dispostas em diferentes níveis, formam janelas de diferentes tamanhos. 

Decoração e iluminação interiores enfeitam a arquitetura exterior.E dentro da casa, ah meu amigo, e dentro da casa a brincadeira continua. Escadarias e prateleiras imitam as vigas da parte exterior. Os finos degraus das escadas visualmente se confundem com as prateleiras. Todos elementos ecoam material, forma e cor.
Essa construção de quatro andares é uma lição em transparência,as escadas não tem corrimão, são formadas por finas placas de mármore e sustentadas simplesmente por uma estrutura de aço. 
A empregada de Paul morria de medo de descer por essas escadas.
Há passagens transparentes, onde o chão é de acrílico, permitindo o olhar curioso do ocupante do andar inferior.
A casa, além de ser o lar do arquiteto, serviu de cobaia para seus experimentos: foi construída em três anos mas Rudolph estava sempre experimentando um novo material aqui e ali. Até o fim de sua vida, em 1997.
Há uma notável ausência de móveis no apartamento. Para Rudolph, móveis eram elementos arquitetônicos. Então armários, assentos, estantes e prateleiras são todos embutidos. 
Interessante também é a escolha dos objetos que decoram a casa e a maneira de dispô-los. Rudolph colecionava arte indígena e adorava suvenires. 

Então, esculturas africanas e pequenas figuras fazem parte da decoração. Colocando-as uma ao lado da outra e em grande quantidade, os objetos se tornam um só. 
Há uma mesa repleta de chaves antigas que ele comprou na Turquia. Uma coleção de robôs de brinquedo é exposta num painel que se estende por dois andares do apartamento. 
Um outro painel contém centenas de figuras mexicanas (mexican milagros) que o excêntrico arquiteto comprou em frente a Catedral da Cidade do México. A disposição desses objetos iguais, um do lado do outro, dá a impressão de uma única obra de arte. Engraçado né, até os objetos ele integrava.

Paul Rudolph nasceu em Kentucky em 1918 e estudou na Harvard, onde foi aluno de Walter Gropius. Mas seu estilo foi além do modernismo. Ele começou a carreira desenhando casas na Flórida, onde foi um dos expoentes do Sarasota Modern , o estilo da arquitetura pós-guerra que emergiu na Flórida.
A fama iria levá-lo para Nova Iorque e à outras partes do país e do mundo, erguendo prédios  como o Yale Art e Architecture Building, uma das construções brutalistas mais conhecidas em todo o mundo. 
Quando o brutalismo saiu de moda nos Estados Unidos, o arquiteto americano foi para a Ásia, onde construiria arranha-céus.

Descomprometido, egocêntrico e versátil, dizia: “Arquitetura é um esforço pessoal, e quanto menos pessoas entre você e seu trabalho, melhor “.
A casa Mudolightor é hoje um museu. O térreo do prédio ainda  é ocupado pela companhia de luminárias que ele fundou. Quando a visitei, em setembro de 2011, a casa estava em reforma.

Fotos: Revista Modulightor e Revista Florida Designers Review

6 Feb 2012

O olho

Foto: Magnolia Brussi
Se o olho não fosse ensolarado não poderia avistar o sol. 
Nem mais nada!... 
O órgão pelo qual compreendi o mundo é o olho!

Goethe

4 Feb 2012

Menina dos olhos

Twiggy surgiu nos anos 60 como se fosse uma provocação a década anterior. Afinal, o padrão de beleza dos anos 50 foi repleto de mulheres voluptuosas e sensuais.
A inglesinha magra de 16 anos não tinha nada de Sophia Loren ou Marilyn Monroe: seus cabelos curtos e o rosto de boneca davam-lhe uma aparência andrógina. Mas o mais marcante nela eram os imensos olhos realçados por cílios postiços e camadas de rímel.
Olhos marcantes que se tornaram o grande ícone dos anos 60. A luz dos olhos daquela geração. Twiggy é considerada a primeira supermodelo do mundo.  

Sampa

Foto: Alexandre Rielo
Quando eu morrer quero ficar, 
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade, Saudade. 

Meus pés enterrem na rua Aurora, 
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano: 
Um coração vivo e um defunto 
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido 
Direito, o esquerdo nos Telégrafos, 
Quero saber da vida alheia, 
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade. 
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

Mário de Andrade